O projeto de certificação de produtores de Camaçari teve início em novembro de 2019, mas os primeiros contatos entre o grupo de produtores e a Fundação Alphaville aconteceram no final de 2017, decorrente da formação agroecológica e de uma feira desses produtos, realizada com o apoio da organização, para trazer visibilidade para a produção familiar no município.

O diagnóstico local previamente realizado apontava a produção rural como a segunda principal fonte de economia para a região, mas algo importante faltava: a integração entre os produtores e o conhecimento técnico para elevar o nível dos alimentos produzidos, o que impactava na escalabilidade e na participação no concorrido mercado de alimentação saudável.

Para tirar o projeto do papel, firmou-se uma sólida parceria entre os produtores rurais, Fundação Alphaville e a Secretaria de Desenvolvimento da Agricultura e Pesca do Município.

“Selecionamos a dedo os agricultores participantes”, recorda-se Daniela Ornelas, representante da Secretaria. “A feira havia sido apenas o primeiro passo para o projeto de certificação participativa, elaborado pela Secretaria com apoio da Fundação”, diz.

O processo de certificação participativa caracteriza-se por sua continuidade, em que um grupo já certificado auxilia, fiscaliza e certifica outros que estejam na mesma formação. Em Camaçari, a Fundação custeou todo o processo de capacitação para o cultivo de orgânicos, bem como a ida de participantes a Irecê, onde está o Raízes do Sertão, que certificou o grupo Polo Verde.

“Eles ainda vieram com um viés a mais, que foi a realização de oficinas para habilitar o agricultor como um indivíduo importante, um empreendedor rural”, destaca Daniela, se referindo à aplicação da metodologia Convivência que Constrói.


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“O mais bacana, além do manejo e dos conceitos de não usar defensivos químicos, é considerar a relação do ser humano com o seu espaço produtivo e com a sociedade”, enfatiza Débora Silva e Silva, Especialista em Projetos Sociais da Fundação Alphaville, que aplicou a metodologia no grupo e atuou em todas as etapas do processo, inclusive nas visitas às unidades produtoras e nas formações necessárias às certificações.


 “Quem compra um produto orgânico está consumindo não apenas um produto sem agrotóxicos, mas todo um conceito de vida em que os produtores têm relações sociais e emocionais saudáveis com o ambiente”, afirma Débora. “O selo de certificação orgânica aumenta em 30% a 40% o valor dos itens cultivados, mas os produtores devem pensar para além disso, percebendo todos os conceitos envolvidos.”

Parte da formação aconteceu durante a pandemia do Coronavírus, o que trouxe muitos percalços, mas também aprendizados. Um deles foi a adaptação do grupo ao mundo virtual, processo que ainda está acontecendo; outro foi o aumento da demanda por orgânicos em Salvador.

“As pessoas despertaram para a necessidade de um corpo saudável, nutrido com alimentos puros”, diz Daniela.

Em dezembro de 2020, sessenta produtores receberam a Certificação Participativa de Produtos Orgânicos, uma conquista que vai além do reconhecimento e possibilita mais oportunidades para vender os produtos para outras regiões do país. Com a certificação e a visibilidade da Feira na Praça dos 46, a associação Polo Verde foi convidada pelo Boulevard Shopping de Camaçari para um novo projeto: uma feira toda às sextas feiras, das 09:00 às 17:00, no Piso 1 do shopping – onde os consumidores de Camaçari terão oportunidade de oportunidade de adquirir produtos naturais da agricultura familiar com certificação orgânica pela Rede Povos da Mata.

Os próximos passos do grupo de produtores são o reforço da capacitação para o cultivo de orgânicos; atuar para renovar a certificação de seus cultivos, que é constante e ininterrupta; e intensificar os treinamentos realizados para que possam se consolidar também como uma unidade certificadora capaz de transmitir técnicas e conhecimentos adquiridos.