Com cerca de 180 mil habitantes, a cidade de Guarapari, uma das mais importantes do litoral do Espírito Santo, tem nas atividades marítimas um diferencial pilar econômico. Da pesca que abastece residências e restaurantes aos passeios turísticos mar adentro, o município encravado na região metropolitana de Vitória tem as embarcações de todos os tamanhos incorporadas à sua paisagem, à sua história e à sua identidade. No entanto, da mesma forma que fortalecem a economia local, os barcos que rasgam o mar de Guarapari também provocam desarranjos ambientais quando o descarte do óleo que utilizam é feito diretamente na água.
Com olhar ambiental atento, o marinheiro e rebocador Sebastião Carlos Machado iniciou, há mais de 20 anos, o projeto Salvamar, destinado a mudar essa dinâmica poluente na região do Perocão, um dos pontos de pesca da cidade. A ideia é simples: coletar o óleo usado pelos barcos de pesca, encaminhá-lo à reciclagem e devolvê-lo limpo aos donos das embarcações por um preço inferior ao praticado pelo mercado. No entanto, conforme explica Sebastião, o próprio projeto – premiado internacionalmente – também precisou ser resgatado.
“Com o fim da parceria com o antigo apoiador, ficamos um tempo com o trabalho parado. Mas desde o início de 2022, o Salvamar está de volta à ativa e nossa expectativa de crescimento e fortalecimento dessa ação é a melhor possível”, comemora o marinheiro, referindo-se ao novo contrato de suporte e apoio, fechado com a Alphaville Urbanismo e com a Fundação Alphaville.
Com o residencial Alphaville Três Praias em obras na região, fazendo divisa justamente com o bairro Perocão, a Alphaville Urbanismo assumiu o financiamento da implantação e manutenção das atividades do Salvamar pelo período de um ano, abraçado pelos departamentos de Meio Ambiente e Obras, e pela Fundação Alphaville.
“A Fundação está responsável por parte do valor total e pela produção de um documentário que vai registrar todo o período de desenvolvimento do projeto, que tem capacidade para atender a 90 barcos de pesca e 150 pescadores”, esclarece Ricardo Moreira Benitez, especialista em Sustentabilidade da Fundação Alphaville.
O mesmo, mas diferente
Funcionando no cais de atracação dos barcos de pesca no Perocão, o projeto Salvamar tem como eixo central a transformação do óleo, feita em três etapas.
“Os pescadores levam o óleo usado e sujo para o descarte no tanque de armazenamento. Esse material passa, então, pelo processo de re-refino e volta limpo para um outro tanque, onde é vendido aos pescadores por preço quase 50% mais barato do que eles pagariam nos postos de combustível da região”, detalha o idealizador Sebastião Machado.
Cada tanque tem capacidade para armazenar 680 litros de óleo e a troca é feita uma vez por mês. Machado conta que antes da criação do projeto Salvamar – oficializado em março de 2000 -, somente na comunidade do Perocão, cada pescador descartava no mar oito litros de óleo por mês. De lá para cá, cerca de 90 mil litros de óleo deixaram de ser jogados na água.
“O fato de serem doses pequenas, esse tipo de poluição é uma das mais violentas porque cria um falso caráter de inofensividade. As doses são pequenas, mas são contínuas. E isso, em médio e longo prazo, pode comprometer toda uma cadeia ambiental de forma grave e, às vezes, até irreversível”, salienta o marinheiro, revelando que a Associação Salvamar pretende levar o projeto a outros pontos de pesca de Guarapari.
A ideia, inclusive, tem eco junto ao departamento de Obras da Alphaville Urbanismo.
“O projeto é simples, inteligente, tem excelente impacto ambiental e social e muito potencial de expansão. Sem dúvida, é um programa promissor e há a possibilidade de contribuirmos, também, com a construção de um plano de negócios para a expansão do Salvamar para outras áreas da cidade”, sinaliza o engenheiro Leonardo Carbogin.
Mar sano, comunidade sã
Especialmente em regiões portuárias, o derrame de derivados do petróleo no mar tem alto potencial para contaminar organismos aquáticos e seus habitats por tempo indeterminado. Além dos barcos pesqueiros, embarcações que atendem ao esporte e ao turismo engordam o descarte poluente. O próprio porto de desembarque no rio Perocão é repleto de biodiversidade natural de características ímpares e importante berçário de diversas espécies de plantas, algas, moluscos, crustáceos, peixes, mamíferos e aves.
Unir a pesca de subsistência, de presença tão forte em Guarapari, a uma iniciativa que estimula e incentiva o manejo sustentável de insumo agressivo é diferencial para diferentes setores.
“Além de evitar a poluição do mar, há o impacto econômico e social nas famílias dos pescadores por meio da compra do óleo limpo a preço de custo. E ainda há o desdobramento ambiental de não ter mais óleo passando pela fazenda de mariscos e de tornar viável o reflorestamento do manguezal”, aponta Sebastião Machado.
“Além do viés ambiental, que diminui a contaminação marinha e a mortalidade de peixes, tem a melhoria da qualidade da água para banho, que é essencial numa região turística”, lembra Thais Protta Campos, engenheira ambiental do Alphaville Três Praias, o mais recente lançamento da Alphaville Urbanismo na região.
“Tiramos nosso alimento e nosso lazer do mar. Então, é muito importante que o mar esteja saudável para que nós também tenhamos melhor saúde. Temos, sim, que ter um olhar especial para o meio ambiente e trabalhar para deixar um cenário melhor para as futuras gerações”, completa Sebastião Machado, fazendo valer o lema que Guarapari pescou do latim: “per oras sanatur – a saúde vem do mar”.
Boas redes, boa pesca
A proposta do projeto Salvamar, focado na sustentabilidade da cadeia produtiva do pescado, apesar de excelente, não funciona sem uma forte rede de apoios e parcerias. A começar dos próprios pescadores até o suporte financeiro que viabiliza compra de tanques, bomba e uniforme, e contratação de agente ambiental para fazer a coleta e posterior entrega do óleo, o marinheiro Sebastião Carlos Machado precisou articular diversas conversas para não deixar ponta solta no programa de conscientização, sensibilização e recuperação do bioma do litoral do Perocão.
Para o coordenador de Obras da Alphaville Urbanismo, Leonardo Carbogin, a questão da sustentabilidade é bastante forte dentro da cultura da empresa.
“Faz parte da nossa visão, missão e prática, atuando por meio da Fundação Alphaville, promover ações de melhoria da qualidade de vida nas comunidades ao redor dos empreendimentos, de forma sustentável, e vendo o quanto é possível impactar positivamente tanto o ambiente interno, como externo da obra. Não conseguimos suprir todas as carências, mas sempre é possível contribuir de alguma forma”, fala Carbogin.
“É muito importante deslocar o olhar para fora de nossa área de atuação e alcançar outras possibilidades de estar presente numa cidade. A empresa vai além da construção civil, entendendo a necessidade da comunidade e identificando formas de ajudar. Em Guarapari, abraçar o projeto Salvamar vem ao encontro dessa proposta”, completa a engenheira ambiental Thais Protta Campos.
Braço social da urbanizadora, a Fundação Alphaville é a parceria que atua diretamente junto à comunidade na efetivação das ações.
“O trabalho da Fundação é pautado pelo estímulo ao protagonismo da população, sempre com foco em transformações que façam diferença na construção de cidades mais justas e mais resilientes. E o projeto Salvamar está totalmente enquadrado dentro desse objetivo de fortalecer o poder que a comunidade tem para mudar seu espaço”, fala Ricardo Benitez, especialista em Sustentabilidade da Fundação Alphaville.
A falta de conhecimento – por parte dos pescadores – sobre a gravidade do descarte do óleo no mar fez o idealizador do Salvamar pensar, também, em realizar atividades de caráter educativo, como palestras, seminários em escolas, coleta de resíduos sólidos nas praias e oficinas de artesanato sustentável a partir desses materiais. Outra iniciativa foi a criação da Associação Salvamar de Assistência à Criança e ao Adolescente, fundada com recursos do prêmio que o projeto ganhou na Austrália, em 2001. A Associação promove inclusão social de crianças e adolescentes entre três e 17 anos por meio de atividades esportivas, culturais, reforço escolar e aprendizado de tecnologia. Fechando a trama da rede de apoio está a Petrolub, empresa responsável pelo recolhimento do resíduo oleoso das bases. Confira no vídeo mais detalhes do projeto: